Capítulo 13 - Tudo Virado do Avesso
Capítulo 13 – Tudo Virado do
Avesso
- Cadela! Mas
que grande cadela! – vociferou Pedro. – Grande cadela. Uma vez puta para sempre
puta. Em que estava eu a pensar?
Pedro, gritava irado
ao observar as gravações do apartamento em Lisboa. Nunca tinha contado a Maria
que tinha instalado um sistema de vigilância. Durante as longas estadias no
Alentejo, Pedro entertia-se a ver Maria. Observava-a a tomar banho, a arrumar a
casa... Passava horas e horas a ler. Não lhe permitia televisão em casa mas
tinha enchido um quarto com livros suficientes para que ela pudesse passar o
tempo. E era isso que ela fazia. Nunca se tinha atrevido a sair de casa, contra
as suas indicações. Aguardava pacientemente o seu regresso e cumpria com as
regras do jogo. Uma vez por mês ele permitia que ele ligasse aos pais. Nos
últimos quatro anos, tudo correra sobre rodas, até agora.
Reconheceu o
cabrão que tinha estado à frente da sua própria casa e embora tivesse um
problema a resolver com aquela cadela, sabia que tinha um problema muito maior
com aquele intrometido. O cabrão sabia onde ele morava, de certeza que tinha
vigiado a mulher e os filhos... Nunca tinha pensado neste cenário e
encontrava-se sem soluções. Tinha de descobrir quais as intenções do fulano.
Tinha de descobrir como é que ele conseguiu chegar até ele. Até aquele dia na
herdade, Pedro podia jurar que nunca tinha cruzado com o cabrão. Nunca lhe
tinha posto a vista em cima.
- Mas que grande
cadela! Grande vaca. – Pedro, não conseguia tirar os olhos do vídeo. – Parece que
estás a gostar. Comigo é só lamurias e gemidos de dor. Estou a ver que afinal
sou meiguinho demais.
Continuou a
falar para si mesmo e andar de um lado para o outro pensando numa forma de
resolver o problema. Olhou para o relógio e apercebeu-se que já estava na hora
de almoço. Fechou a porta da pequena arrecadação, trancou e subiu para o
celeiro.
As coisas não
estavam fáceis. Em menos de 24 horas a situação passou de ideal para infernal.
No meio da noite anterior surgiu uma sobrinha, completamente do nada. Uma
sobrinha de que sempre ouvira falar mas nunca lhe tinha posto a vista em cima.
Foi para o celeiro, logo depois do pequeno-almoço, de forma a dar espaço à
Neuza e à miúda. Para lhe ter aparecido assim, à porta de casa, depois de anos
e anos sem resposta aos cartões de Natal e cartas da tia é porque alguma coisa
estava muito errada. Recusou-se a ligar para os pais e mal tinha trocado uma
palavra com a tia. Esta situação tinha que se resolver o mais rápido possível.
Ele tinha de ir a Lisboa, mas não podia deixar a mulher sozinha com este
problema em mãos.
- Que raios! –
vociferou antes de entrar em casa.
A mesa já estava
posta e almoçaram em silêncio. Os miúdos, estavam assustados com a presença da
prima. Nunca tinham visto a mãe a chorar e não conseguiam entender o que se
passava. Pedro, ajudou Neuza a retirar a mesa e sentou-se com ela na sala. As
gémeas e o Afonso refugiaram-se no quarto e Deborah, foi para o alpendre e
olhava para o céu como quem estivesse à espera de um milagre.
Pedro, massajou
as costas da mulher e deu-lhe um beijo na testa.
- Então?
Conseguiste perceber o que se passa?
- Não, Pedro. Só
sei que a miúda está super assustada. Não consegue falar comigo. Precisa de
tempo...
- Tempo? Quanto
tempo, Neuza? Tens de a pressionar. Não estás em condições de passar por
situações de stress.
- Não sei,
Pedro. Não sei, amor. Não a quero afastar. Por algum motivo recorreu a mim.
- Entendo. –
Aconchegou-a mais junto ao seu peito. Amava aquela mulher. – E a mãe?
Conseguiste falar com a mãe?
- A Eva desde
ontem não me atende o telefone. Não sei o que se passa. Estou preocupada.
- E o tal
padrasto? O padrasto, conseguiste falar com ele?
- Não tenho o
contacto dele. Nunca falei com ele.
- E o teu irmão?
Quem sabe agora fazia-se de homenzinho e reconhecia a filha. Sinceramente não
entendo, alguns homens. Trazer uma filha ao mundo e abandonar.
- Ele era miúdo,
Pedro. Agiu sem pensar. Era um irresponsável...
- Lá estás tu a
defende-lo. Tens de parar com isso, Neuza. Liga para ele. Ele tem de saber que
algo se passa com a filha.
- Não sem antes
eu saber o que se passa. E o quê? Ele que nunca quis saber dela, há-de vir a
correr da Austrália para ver o que se passa? Deixa-me tentar resolver... Confia
em mim, amor.
- Ok, princesa.
Vou dar-te algum tempo, mas não muito. Tenho que cuidar de ti e desse nosso
filhote na tua barriga.
- Obrigada. Não
sei o que seria de mim sem ti, Pedro.
- Estou cá para
ti. Nascemos para estar juntos, princesa. Ajudo no que puder. – Beijou-a uma
vez mais na testa e ligou a televisão.
- Olha... Podias
ir a Lisboa, à casa da Eva. Falar com ela...
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