Capítulo 7 - Contacto
Capítulo 7 – Contacto
Daniel
não quis acreditar, quando a meio da madrugada, o “animal” acordou-o com uma
palmada valente na porta da carrinha.
Fez-se
imediatamente de desentendido, desculpou-se e disse que estava perdido. Vinha
visitar uma tia morava para aquelas zonas mas não a conseguia contactar.
Explicou que preferiu parar, dormitar e aguardar pelo amanhecer, que seria mais
fácil para ele reconhecer a zona ou por essa altura ela já lhe atendesse o
telefone.
O
“animal” pareceu acreditar na versão dele e amansou.
-
Desculpe, sabe. Todo o cuidado é pouco. É muito raro vermos alguém por estes
lados e a sua carrinha parada durante tantas horas no inicio do nosso trilho,
chamou-me a atenção.
-
Tem toda a razão, senhor...
-
Pedro. Pedro Paiva.
-
Senhor Pedro, tem toda razão. O meu nome é João. – Foi esperto o suficiente
para não dar o nome verdadeiro. – Vim visitar a minha tia, ela já à velhinha. A
última vez que cá vim foi com a minha mãe, há alguns anos atrás. Desculpe.
-
Compreendo. Quem sabe, posso ajudar. A sua tia, como se chama?
-
Antónia. Ti Antónia, como lhe chamam. Conhece? Deve conhecer. Todos a conhecem.
-
Uhm... Ti Antónia? O nome não me é estranho. – Havia sempre uma tia Antónia nas
aldeias. - Não sei. Não consigo lembrar-me. Na verdade, a minha esposa deve conhecer. Eu
passo muito pouco tempo na herdade.
-
Desculpe estar a incomodar sr Pedro. Assim que o sol raiar eu ponho-me a
caminho.
-
Precisa de alguma coisa? Uma manta, talvez? Água? Comida?
-
Não, não. Obrigada. Estou bem. Não se preocupe. Não lhe ocupo mais tempo.
Desculpe.
-
Olhe que não me custa nada. Eu vou retirar-me, se quiser pela manhã, pode tomar
o pequeno-almoço connosco. A minha Neuza não se irá importar e com certeza ela
conhece a sua tia e poderá ajuda-lo.
-
Obrigada pela gentileza. Vou tentar contactar a minha tia logo pela manhã, se
não o conseguir fazer, aceito o seu convite.
Pedro,
afastou-se e caminhou lentamente até casa. Daniel, observou-o e parecia um tipo
normal. Não tivesse ele visto o que viu poderia jurar que não se tratava da
mesma pessoa.
A
informação que recolheu era preciosa. Não só sabia o seu nome, se fosse o
verdadeiro claro, como ficou a saber que tem esposa. Sentiu-se tentado a
aceitar o convite. Queria saber mais sobre o “animal” e esta seria uma bela
oportunidade de o fazer. Porém era muito arriscado. Com a luz do dia ele
poderia reconhece-lo, ou achar o seu rosto familiar e levantar suspeitas. Não
podia levantar suspeitas e tinha que ter mais cuidado.
Assim
que o sol nasceu, Daniel, arrancou. Andou uns quinhentos metros e parou a
carrinha num local que não dava visibilidade para a herdade. Saiu a pé,
encontrou um local estratégico e vigiou a propriedade.
Pedro,
o “animal”, não só tinha esposa como tinha três filhos e mais um a caminho.
Duas gémeas, e um rapaz. O rapaz aparentava ter 8 aninhos e as gémeas 5. Pedro,
era um pai muito atencioso. Viu-o a brincar com as meninas e ajudar o rapaz com
a casa da árvore. A esposa, que de tempos a tempos trazia refrescos para eles,
parecia feliz. Pedro, enchia-a de beijos e de mimos. Por várias vezes viu-o a
esfregar-lhe os ombros e a acariciar-lhe a barriga.
O
que levava um homem desses a levar uma vida dupla? A esposa, jovem e feliz.
Três filhos saudáveis e mais um a caminho. Uma herdade, bem cuidada... Pedro
era a imagem de um pai de família e de um homem de sucesso. O que o levava a
maltratar a sua Rapunzel?
Que
loucura era esta? Não fazia sentido. As agressões, os jantares animados após as
mesmas. Será que a Rapunzel era a amante? Seria tudo um jogo? Será que ela
gostava? Porque é que aceitava isso? Porque é que lhe deixava entrar em casa?
Porque é que não pedia socorro?
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