Capítulo 40 - Reencontro

Estava parada à porta do prédio fazia horas. Os vizinhos já deviam estranhar o que estaria a fazer uma desconhecida à porta do prédio sem nunca entrar. Avistou Daniel e suspirou de alívio. Ao vê-la, Daniel, correu desesperado a abraça-la.
- Maria! Maria, estás bem! Oh, estás viva! Estás viva! – Levou-a para dentro do apartamento. Sentou-a no sofá e olhou para ela com mais atenção. – O que se passou? Estás num estado...
- Estou... Estou bem, Daniel. O Pedro...
- O que é que aquele “animal” te fez?
Maria contou-lhe do que se lembrava. Decidiu sair do apartamento para nunca mais voltar. Saiu para a rua com a mala de viagem na mão. No preciso momento em que atravessava a rua, o Pedro vinha a conduzir e parou para deixa-la passar. Quando deu conta que era ela, saiu do carro a correr e obrigou-a a entrar. Conduziu durante o que passou uma eternidade. Não conseguiu perceber para onde ela a levava. Gritou com ela o caminho todo. Disse-lhe que sabia de tudo. Que tinha câmaras escondidas em casa e viu-os a fazer amor. Jurou que lhe iria matar de porrada. Parou num local deserto e arrastou-a para fora do carro. Pontapeou-a... Esbofeteou-a... Até perder os sentidos. Maria pensou que ia morrer. Lembra-se de ter acordado num lamaçal rodeado de árvores. Um casal ajudou-a... Acordou no hospital...
Daniel não queria acreditar no que estava a ouvir. Pedro quase que a matara. Provavelmente deixara-a como morta. Ele tinha de pagar por isso.
- E no hospital? Contaste à policia?
- No inicio, tive receio, Daniel. Não tenho documentos. Sou uma prostituta. Quem ia acreditar em mim? Quem?
- Mas ele tem de pagar, Maria. Se não contares ele vai safar-se. Vai sair impune. Eles não te podem por na cadeia por não teres documentos. O máximo que podem fazer é mandar-te para Angola e eu vou para lá ter contigo.
- Eu... A situação mudou, Daniel. As médicas convenceram-me a contar tudo. O Pedro terá de responder pelos seus atos e até isso acontecer não me podem mandar embora e pode ser que até lá...
- A situação mudou como assim? O que te fez mudar de ideias?
- Fizeram-me um monte de exames no hospital, Daniel. E descobriram...
- Meu Deus... O que é que descobriram? Estás doente? O gajo passou-te alguma doença? É isso?
- Nada disso... Não... Ele sempre usou proteção comigo, Daniel. Sempre foi cuidadoso em relação a isso...
- Então que é que descobriram? O que é que se passa?
- Eu... Eu estou grávida, Daniel.
- Grávida, como? Se sempre usaram proteção...
- Sim, o Pedro, sim. Mas nós não...
Daniel lembrou-se da noite em que se entregaram sem medos, sem receios. Fizeram amor a noite toda e adormeceram abraçados. Emocionou-se e beijou-a. Maria, colocou os braços em volta do pescoço de Daniel e entregou-se ao beijo.
- Desculpa... Desculpa por me ter ido embora sem dizer nada... Quando pensei que ia morrer só conseguia pensar que não me tinha despedido de ti Que ias ficar doido à minha procura... E depois, Deus... Recebi uma segunda chance, Daniel. As probabilidades do bebé ter sobrevivido com as agressões que eu sofri... Só pode ser uma segunda chance.
- Eu não sei o que dizer... Não estava a contar com isto. Estou muito feliz. Havemos de arranjar forma de resultar. Acredita. Vamos arranjar forma de fazer resultar. Vou fazer-te feliz, Maria. Prometo.
- Prometes, mesmo?
- Prometo. Não vou deixar que mais nada aconteça contigo. Vou tomar conta de ti e... do nosso bebé...
- Estava com medo que não o quisesses, Daniel.
- Eu nunca te menti quando disse que te amava, que queria ficar contigo. Qual o homem que ama e que não quer um filho da mulher que ama? É tudo o que eu mais quero neste mundo. Anda... Vou preparar algo para comeres.
- Posso tomar um banho enquanto preparar a comida?
- Claro, que sim.
- Podes mostrar-me onde fica a casa de banho?
- Claro. É a primeira vez que vens a minha casa. Anda. Tens o que vestir?
- Não tenho nada... A minha mala ficou no carro do Pedro.
- Não te preocupes, amanhã vamos às compras.
- Não preciso de muito, Daniel. Não quero que gastes comigo.
- Não te preocupes. E a policia? O que se vai passar agora.
- O Pedro já deve ter sido abordado pela polícia. Disseram que iam emitir um mandado de prisão ou prestar declarações. Não entendi bem. – Gritou, para se fazer ouvir com o barulho do chuveiro.
- Ainda bem. Eu amanhã vou à policia prestar declarações. Tenho provas de tudo. Tenho fotos...
- E como vais justificar isso?
- Não me interessa. Vou entregar-lhes tudo. Não há-de ser a tua palavra contra a dele. Vai fazer-se justiça.
- Deus te ouça. Espero que já o tenham prendido, tenho medo que ele possa fazer se o deixarem em liberdade.
- Um caso desses não o deixam em liberdade, Maria. Não te preocupes e eu estou aqui.

Lá em baixo, no parque de estacionamento, Pedro esfumava pela boca. Por sorte já não morava na herdade e Neuza ligou-lhe a dizer que a polícia estava atrás dele. A primeira coisa que lhe veio à cabeça foi a possibilidade da puta se ter escapado. Pensou que a tinha deixado para morrer. Aqueles dois destruíram-lhe a vida e estava na hora de pagarem por isso. E desta vez, ia certificar-se que ficavam mortos e enterrados para sempre.

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