Capítulo 42 - Encurralado

Sentia-se encurralado. Nunca se tinha preparado para um cenário desses. Agiu por impulso e acabou por ir longe demais e agora não tinha volta a dar.
Nunca teve intenção de atacar Maria da forma que a atacou. Naquela noite saiu para procurar um alívio, uma prostituta... Alguém que lhe permitisse libertar-se dos seus demónios. Deus várias voltas à cidade e não encontrou nenhuma que aceitasse a violência que ele oferecia. Não gostava de espanca-las sem o seu consentimento. Elas tinham de assumir que mereciam. Tinham de assumir que estavam perdidas e manchadas, que não tinham salvação possível.
Deu por ele, à na rua do prédio onde tinha alugado o apartamento para Maria. Afinal de contas ainda pagava pelo apartamento e continuava a pagar pelos serviços. Não gostava do facto desta ter se entregado a outro homem, e ter quebrado o acordo entre eles, mas naquele momento precisava de alívio e aquela era a única opção.
Quando a viu com a mala na mão, a atravessara estrada, encheu-se de raiva. Maria, tinha ido longe demais. Depois de tantos anos, atreveu-se a sair? Atreveu-se a deixa-lo? Ele que nunca lhe faltou com nada? Ainda há tempos lhe tinha prometido uma viagem a Nova Iorque. Puta! Ingrata! Arrastou-a para dentro do carro. Gritou com ela e quanto mais ela falava e dizia que bastava, mais ele se irritava. Só queria que ela pedisse perdão. Só queria que ela reconhecesse o quanto ele a ajudou. Nunca falhou. Outro gajo qualquer batia-lhe e não lhe dava um tostão. Como podia ser tão ingrata?
Saiu do carro, quando chegou a um descampado, e ordenou-lhe que lhe pedisse perdão. Ordenou-lhe que confessasse os seus pecados. Ordenou-lhe que lhe dissesse quem era o gajo que ia lá a casa... Maria, negou vezes e vezes sem conta e ele perdeu a cabeça. Bateu-lhe. Bateu-lhe por tê-lo enganado, bateu-lhe por ter tido a coragem de o abandonar, bateu-lhe pelos problemas que o cabrão do namoradinho dela tinha trazido... Quando perdeu as forças e olhou para ela deitada no chão agachou-se para lhe sentir o pulso. Não conseguiu achar o pulso e entrou em pânico. Meteu-a dentro do carro e dirigiu para a Serra da Árrabida. Largou-a e foi-se embora. Apesar de tudo, não passava de uma adúltera e só tinha tido o que mereceu.
Pensou que o assunto tinha ficado resolvido e só tinha que tratar do intrometido. A conversa com o cabrão, até que tinha corrido bem, e Pedro saiu de lá descansado. Ia focar-se em reconquistar a esposa e cuidar da sua família. Quanto aos seus demónios iria voltar aos tempos antigos. Procurar uma adúltera que não se importava de apanhar umas boas bofetadas e ficar por aí. Não iria voltar a cometer o mesmo erro de comodismo e iria arranjar uma diferente sempre que precisasse. O erro foi esse, o de ter tentado facilitar as coisas. A verdade é que ele detestava solicitar, mas dos males o menor.
Porém, quando a esposa ligou a dizer que a polícia estava à procura dele, Pedro entrou em pânico. Perguntou-lhe se estava relacionado com o caso do Diogo e ela disse que não, que tinha a ver com um caso de agressão e não quiseram entrar em mais detalhes. Imediatamente, Pedro soube do que se tratava. De alguma forma a puta se tinha safado, e agora ele estava nesta situação. Encurralado. Devia ter garantido que ela estava morta.
Graças a Deus, tinha muito dinheiro em mãos que usava para dar a Maria. Não quis correr o risco de usar os cartões, porque assim que usasse a polícia ira saber em que zona ele se encontrava. Largou o carro que usava normalmente e comprou um Opel Corsa a cair aos bocados. Comprou uns óculos e uma peruca. Olhou-se ao espelho e achou suficiente. Desde que não desse de caras com alguém que o conhecesse nunca iriam desconfiar que era ele.
Sabia bem as penas aplicadas a crimes como o dele e não era homem para ir para a cadeia. A sociedade moderna não fazia distinção entre crimes contra pessoas inocentes e a remoção de manchas na sociedade. Infelizmente, teria de fugir do país. Haviam provas suficientes contra ele, e de certeza que de onde veio a foto que o intrometido enviou para a mulher tinham muitas mais. Aquele cabrão fez-lhe perder tudo. Apaixonou-se por uma adúltera e destruiu a vida de um homem trabalhador, pai de família... Pedro, tinha perdido tudo mas o cabrão não ia ficar a rir. Sabia onde o gajo morava e não se ia escapar. O barco estava a afundar-se mas ele ia levar o cabrão com ele ao fundo.
A puta, tinha tido a petulância de se ir refugiar nos braços do cabrão. Quando os viu juntos, não ficou irado, ficou até muito feliz. Dois coelhos de uma cajadada só, pensou. Aguardou pacientemente, no parque de estacionamento. Mais cedo ou mais tarde os dois haveriam de sair juntos para algum lado e Pedro estaria à espera.

Daniel e Maria, saíram do prédio de mãos dadas e aos beijos. Tiveram a coragem de andar agarradinhos em público. Pensavam que não tinham nada a perder. Pedro, aguardou que Daniel pusesse o carro em marcha e seguiu-os. Podiam continuar a rir. Que rissem tudo o que tivessem para rir, porque Pedro tinha a certeza que quem se ri por último ri-se muito melhor.

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