Capítulo 44 - Nelson
Não queria
acreditar nas notícias. Não era possível. Como? Eva no hospital, em coma? Não
pensou duas vezes. Foi direto para o aeroporto e comprou o bilhete para o
primeiro voo para Lisboa. Assim que aterrou, ligou para Neuza.
- Nelson, meu
irmão. Que bom ouvir a tua voz.
- Neuza, também
estou cheio de saudades tuas. Diz-me o que se passa com a Eva, por favor...
- Tentei
ligar-te. Estou há horas a tentar ligar-te. Tinhas o telemóvel desligado...
- Estava a
viajar. Acabei de aterrar em Lisboa.
- Estás cá? E
não me dizias nada?
- Vi as notícias
e agi de impulso. A mãe da minha filha está em coma, tinha de vir.
- Nelson, vem cá
a casa. As coisas não ficam por aí... Infelizmente tenho muito mais para te
contar...
- Diz-me agora,
Neuza. O que se passa? Pelo teu tom de voz sei que não é boa coisa... Não vou
aguentar esperar até chegar aí.
- Nelson, onde
estiveres senta-te. Não vais gostar de ouvir o que tenho para te dizer.
Nelson, foi até
à casa de banho e vomitou. O que a irmã tinha acabado de contar era
inacreditável. E a culpa era toda dele. Ele é que abandonou as duas. Ele é que
deixou a Eva para trás com a bebé recém-nascida nas mãos. A culpa era dele. A
filha... A filha estava marcada para sempre. Nunca iria conseguir apagar as
marcas deixadas pelo que o padrasto fez. Monstro! Um monstro! E com o dinheiro
que tinha, muito provavelmente nem iria parar à cadeia. Ficarei em prisão
domiciliária ou pena suspensa.
Pelo que a irmã
lhe contou, Deborah estava neste momento a falar com o padrasto, perto do
hospital. Estava perto, a conversa não seria rápida e se fosse rápido em menos
de uma hora conseguia colocar-se em Setúbal, era um esticão, mas era uma
emergência. Com sorte, era o primeiro na fila do Car Rental. Assim que pegou no
carro, voou para Setúbal. Chegou ao hospital mesmo a tempo de ver a filha a
sair do café e a entrar novamente no hospital. Uns segundos depois, viu Diogo a
dirigir-se para o carro. Diogo, nem olhou para trás e arrancou a alta
velocidade.
Nelson,
seguiu-o. Diogo, saiu do carro e entrou num prédio. Quando Nelson ia a sair do
carro, viu Diogo a sair do prédio e voltar para o carro. Nelson, não pensou
duas vezes. Pegou num pau que viu no chão e aproximou-se do carro. Partiu o
vidro e arrastou o monstro para fora do mesmo. Deu-lhe uma cacetada e, já inconsciente,
levantou-o e colocou-o na bagageira do carro.
Conduziu sem
rumo, sem saber o que fazer. Não tinha nenhum plano, agiu de impulso como
sempre fez em toda a vida. Lembrou-se de um bairro bastante perigoso, que
frequentou durante a adolescência, na altura que estava na moda fumar ganza.
Foi até lá e
saiu do carro. Encostou-se a uma porta e esperou. Não tardou muito, um
individuo, com um ar ameaçador, aproximou-se. Nelson, explicou que não queria
problemas. Tinha uma encomenda no carro e pagava bem se o rapaz soubesse de alguém
que pudesse tratar dela. O rapaz, desconfiado, assobiou para avisar os restantes
membros no gangue, e seguiu Nelson até ao carro.
Nelson, abriu a
bagageira e explicou o que queria. De quem se tratava e porque o tinha ali
naquele estado. O grupo, imediatamente, mostrou solidariedade. Um cobarde que
faz o que ele fez a uma criança, durante anos e anos, merecia o que Nelson
propunha e muito mais. Perguntou se 10 mil euros chegavam para o serviço. Os
rapazes riram-se, não era sempre que eram pagos para fazer algo que, com muito
gosto, fariam de graça.
- Obrigada.
Façam o quiserem como ele. Só não o matem. A morte seria bom demais para esse
monstro.
O que fez à Eva,
não tinha perdão. Deixar uma jovem, assustada, com uma criança nas mãos... Não
seria capaz de retirar o que fez, mas era capaz de dar uma lição ao monstro que
tinha destruído a vida da mulher e da filha. Quanto à Deborah, estava na hora
de Nelson assumir as suas responsabilidades e ser um pai de verdade.
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