Capítulo 46 - Prisão
Diogo, antes
mesmo de atravessar a estrada foi reconhecido pela polícia. Num abrir e fechar
de olhos, estava deitado no chão com as mãos atrás das costas e a ser algemado.
Os jornalistas
correram na sua direção e esqueceram-se por completo do funeral. Mais polícias
aproximaram-se e dezenas de carrinhas de televisão estacionaram em volta para
filmarem o acontecimento.
O famoso
futebolista, Diogo Amaro, tinha acabado de ser capturado pela polícia. Não
resistiu a assistir ao funeral da mulher, com quem partilhou 10 anos da sua
vida, e a quem tirou a vida. Seria remorso? O futebolista apresentava sinais de
agressão física. Por onde tinha andado? Cada jornalista apresentava a sua
própria teoria. O circo, estava montado.
Diogo, da janela
do carro da polícia, viu Deborah parada em frente à campa da mãe. De mãos dadas
com a tia e a avó. Não se conseguia perdoar pelo que tinha feito à miúda.
Destruiu-lhe a vida para sempre e não tinha como retirar o que tinha feito. Não
podia continuar à solta depois do que fez, a prisão, apesar de ser o último
local onde queria estar, era a solução.
Antes de decidir
entregar-se falou com o advogado. Devido ao seu status, e ao tipo de crime,
Diogo seria colocado numa prisão com condições especiais e estaria afastado dos
outros reclusos. Engoliu em seco ao recordar-se da tortura pela qual tinha
passado. As imagens da violação a que foi submetido assombravam-no. A humilhação...
A dor... A impotência... A incapacidade de se defender... Sensações horríveis a
que tinha submetido a própria enteada...
O advogado
convenceu-o a fazer um acordo. Diogo não tinha antecedentes e poderia conseguir
uma redução na pena. Poderia apanhar entre 5 a 20 anos de prisão, contundo
confessando, assumindo o seu remorso e sem antecedentes, Diogo, apanharia
provavelmente 5 anos e cumpriria apenas metade da pena dentro de uma
instituição prisional e sairia em liberdade condicional. Seria obrigado a pagar
uma indemnização a Deborah, mas isso não seria problema visto ter uma fortuna
avultada.
Prestou
declarações e foi encaminhado para a cela. Levou as mãos à cabeça e chorou...
Era um destruidor de vidas... Devia ter assumido quem era e pedido ajuda
enquanto pode. Devia ter pedido ajuda antes de cometer as atrocidades que
cometeu. Podia ter fugido de si mesmo, tal como o Alexandre. As opções que
tomou levaram-lhe ali, àquele local onde se encontrava. De qualquer forma, a
vida de Diogo nunca mais seria a mesma. Embora estivesse vivo, o famoso Diogo
Amaro já tinha morrido há muito tempo. Agora, era apenas mais um pedófilo, que
não resistiu à tentação. Era mais um pedófilo na lista de agressores sexuais.
Diogo Amaro, era uma mancha na sociedade.
Perdido nos seus
pensamentos, Diogo, recebeu uma visita.
- Olá, Diogo.
- Conheço-te? –
perguntou ao deparar-se com um estranho à sua frente.
- Não... Nunca
fomos oficialmente apresentados.
- O meu nome é
Nelson... Nelson Miranda.
- Pois... O
desaparecido pai da Deborah. Afinal estás vivo. – Respondeu com sarcasmo.
- Como foste
capaz? Como foste capaz de tocar na miúda...
- Nelson, já
vens tarde. Essas perguntas já foram feitas. Se calhar, se não tivesses deixado
a tua filha nada disto teria acontecido.
- Seu animal,
como tens coragem? Eu mato-te!
- Se não
tivesses deixado a miúda eu não tinha tido a oportunidade que tive. Sou
culpado, sei que sou. Assumo. Já disse isso ao mundo inteiro. E tu, Nelson? Já
assumiste a tua culpa?
- Não tenho
culpa que sejas doente. Deixei a minha filha, sim. Mas nunca pensei que fosses
este animal.
- No fundo,
somos todos uns animais. Cada um tem de viver com os seus demónios. Eu assumo
os meus, Nelson. Vais ver que vais ficar em paz quando assumires os teus,
acredita.
- Vais apodrecer
na prisão, Diogo. E se não apodreceres eu mato-te. Eu mato-te quando saíres daqui.
- Cuidado com o
que dizes, Nelson. Estão aqui muitas testemunhas. Vai para casa. Vai tomar
conta da tua filha.
- Não me voltes
a falar na Deborah. Lava a boca com sabão antes de falares na miúda.
- Estou a falar
a sério. Não estou a ser sarcástico. Vai cuidar da Deborah, ela precisa de ti.
Embora não acreditem eu gosto muito dela. Vai cuidar dela, por favor.
Diogo, observou
Nelson a ir-se embora. Todos pensavam que era um monstro. Todos sabiam que era
um monstro. Não tinha como explicar o que sentia. Ninguém se preocupou com o
que sentia. Os monstros não tinham sentimentos. Os monstros não tinham voz.
Nelson, não reparou quando Diogo tirou a caneta que tinha no bolso. Estava mais
preocupado a apertar-lhe o pescoço até o guarda os separar. Após Nelson passar
o portão que separava as celas dos escritórios da esquadra, e do polícia
trancar e virar-se de costas, Diogo espetou a ponta da caneta na jugular.
- Perdoa-me,
Deborah. Por favor, tenta ser feliz...
As últimas palavras de Diogo ficaram no ar. Gerou-se
a confusão na esquadra. O guarda abriu a cela e fez pressão sobre a garganta de
Diogo. O sangue continuava a escorrer.
Quando os
paramédicos chegaram, Diogo, já estava morto. O monstro já não era um monstro.
Era apenas mais um cadáver a caminho da morgue.
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