Capítulo 48 - Quatro Anos Depois

Deborah, estava sentada no seu local favorito. A vista, do alpendre da herdade, era simplesmente soberba. Adorava observar o por-do-sol. O céu ganhava um céu alaranjado que nenhum conjunto de lápis ou canetas conseguia imitar.
Amanhã, seria o seu aniversário. Ia fazer 16 anos, no entanto sentia que já caminhava para os 30. Já tinha vivido muito, mas sabia que ainda tinha muito para viver.
- Sheila, tudo bem, amiga?
- Então, velhota? Como te sentes? Dezasseis, já?
- Ainda não... Só amanhã...
- Como se umas horas fizessem a diferença, hehehe. Como estás? Quando vens a Lisboa?
- No próximo sábado, vou passar o fim de semana com a minha avó.
- Boa! Temos de combinar um cinema, miúda. Tenho saudades tuas.
- Saudades? Estamos sempre no whatsapp, pah!
- Não é a mesma coisa. Como estás? Não me respondeste!
- Até quando vais perguntar-me como estou?
- Até sempre, Debi. Até sempre. Adoro-te, és a minha pessoa favorita.
- E eu a ti. Estou bem, e próximo sábado vamos ao cinema. Escolhe o filme, desde que não seja de terror, detesto filmes de terror...
- És uma medricas. Adoro-te. Até já!
- Até já, sua doida.
Entrou para ajudar a tia a colocar a mesa para a ceia. O pai viajava amanhã, de volta para a Austrália e insistia em passar a meia noite com ela. Na sala, o pai corria atrás de Miguel como se fosse o lobo mau. O miúdo fugia, às gargalhadas, mas não ia muito rápido na esperança que o tio o apanhasse. Essa era a parte mais divertida. As avós, conversavam animadamente à frente da televisão, fingindo que estavam a ver a novela. Embora estivessem entretidas uma com a outra, ninguém se atrevia a mudar o canal de televisão, pois sabiam que ambas iriam gritar em uníssono que estão a ver a novela. Ás gémeas cochichavam entre elas e Afonso, estava agarrado ao telemóvel.
- Em que estás a pensar, meu amor? – A tia passou-lhe as mãos pelo cabelo.
- Nada, tia. Vim ajudar-te a por a mesa.
- Pois, com tantas pessoas dentro desta casa pensei que teria mil ajudantes, afinal só tenho uma.
- É o nosso papel, não é tia? Cuidar da nossa família, faço por gosto.
- Eu sei, meu amor. És um anjo... Obrigada.
- Um dia, quem sabe, eu terei a minha própria família...
- Uma menina linda como tu, quem sabe? Quem sabe, não. De certeza que terás. E eu estarei lá para te ajudar a cuidar dela.
Neuza, espetou um beijo na testa da sobrinha e apressou-a para a cozinha para irem buscar o jantar. Enquanto Deborah, apanhava os pratos, Neuza observou o quanto a sobrinha cresceu, física e psicologicamente. As sessões com o psicólogo eram cada vez menos frequentes e embora apresentasse sequelas, Neuza sabia que com o tempo a sobrinha ia encontrar o seu próprio caminho. Estava grata a Nelson e a Dona São, por lhe terem dado a tutela de Deborah e por terem consentido no aborto. Embora fosse contra a sua religião, todos consentiram que o melhor para Deborah era abortar. A menina já tinha passado por tanto e não seria capaz de aguentar a gravidez até ao fim, o parto, decidir o que fazer com o bebé... Foi melhor assim.
Nelson, estava grato pela irmã que tinha. Neuza, assumiu a filha e aceitou-a como se fosse dela, mesmo estando sozinha com 4 filhos para criar. A irmã era uma guerreira. Foi díficil ganhar o perdão da Deborah, e ainda tinha muito que percorrer, mas já tinham uma relação de pai para filha. Deborah, tinha aceite ir passar umas férias com ele a Austrália, e isso era uma batalha ganha.
Cearam, num ambiente animado. Aguardaram a meia-noite e cantaram os parabéns para a menina guerreira. Deborah, soprou a vela e pediu um desejo: que o amor a continuasse a salvar.
Depois de tudo pelo que passou, Deborah tinha encontrado a paz no seio familiar. Após a morte de Diogo, a família decidiu que discutir quem ficava com Deborah, não fazia sentido. Perguntaram-lhe o que ela queria a consentiram. Aos solavancos e aos apalpões, criaram uma família sólida e feliz em que a honestidade era a base de tudo. Conversavam sobre tudo e decidiam tudo juntos. Sentia muitas saudades da mãe. Sabia, que um dia voltariam a estar juntas. A vida era assim. Perdeu uma mãe mas ganhou uma tia. Deus nunca tira nada, sem colocar algo no mesmo lugar.
Maria, correu atrás do filho, no Mussulo, em Luanda. António, adorava a praia, tal como o seu avô. Fugia das ondas e fazia bonecos com a areia. Fugia da mãe para depois ir correr ao seu encontro. Maria, estava feliz. O filho tinha trazido luz para a sua vida. Após o nascimento de António, Maria entendeu o que o pai sempre tinha tentado preservar. Percebeu que o amor de uma mãe para um filho era maior que o mundo. Percebeu que a família vinha sempre à frente de tudo... Ao longe, sentado no bar a beber água de coco, Daniel, olhava apaixonado para a sua mulher e para o filho. Tinha cometido vários erros na vida, mas a melhor coisa que fez foi agarrar naqueles binóculos e observar a misteriosa vizinha do quarto andar. A mulher que o tornou o homem invisível no homem mais feliz do mundo.


FIM

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