Capítulo 4 - Pedro
Chegou a casa e os miúdos, praticamente, caíram-lhe
em cima. Quase sufocou com a avalanche de beijos e abraços de que foi alvo.
- Papá... Tive tantas saudades tuas. – disse Sara.
- Eu tive mais... Muitas mais, pai. – interrompeu Miriam.
- Oh pai, sabes que eu senti mais saudades tuas do
que elas, não sabes? Nós somos da mesma equipa. Da equipa dos rapazes. –
rematou o Afonso.
- O que eu sei, é que vocês vão matar-me com as
vossas saudades. Isso é que eu sei. – Abraçou-os a todos ao mesmo tempo. –
Abraço de família!! – atirou-os ao chão e enrolaram-se em beijos e abraços.
- Bem... Eu estou a ver que tenho que trabalhar
fora como o vosso pai, pode ser que assim também sintam saudades minhas!
– Neuza, largou o naperon por
cima da bancada da cozinha, aproximou-se da algazarra e abriu os braços à
espera de abraços.
Os miúdos largaram o pai e encheram a mãe de
beijos.
- Nós temos saudades tuas, também, mamã. –
responderam em uníssono.
Pedro, levantou-se, sacudiu as calças e
aproximou-se da esposa.
- Estás radiante, Neuza. Estás com um brilho natural. A gravidez fica-te bem. Anda
cá, minha princesa. – abraçou-a e beijou-a demoradamente.
- Yuck. –
Os miúdos gritaram e dispersaram para os respetivos quartos.
- Como foi a viagem para Lisboa? Correu tudo bem? –
perguntou Neuza, enquanto
carinhosamente afastava o cacho de cabelo que ligeiramente cobria os olhos de
Pedro.
- Foi terrível. Sabes que detesto ficar longe de
ti. Principalmente, quando estás neste estado de graça.
- O que posso fazer quando a única coisa que sabes
fazer é engravidar-me. – sorriu e encostou a cabeça no seu ombro.
- “Deus abençoou Noé e seus filhos: "Sede
fecundos, disse-lhes ele, multiplicai-vos e enchei a terra.” Génesis 9:1. –
Respondeu, imitando a voz solene de um padre. – Eu só sigo os desígnios de Deus.
- Pois, pois. Eu acho é que gostas mais é de os
fazer. – Corou.
- Bem, a culpa é tua. Tu é que me seduzes com o teu
olhar.
- A culpa é sempre das mulheres.
- Claro. Quem deu a maçã ao Adão?
- Vamos pagar por esse pecado, eternamente? É essa
a tua opinião?
- Bem... cada um tem o que merece, certo? –
respondeu em tom de chacota.
- És incorrigível, Pedro Paiva.
- E tu adoras-me assim, minha princesa. Agora,
deixa-me ir tomar banho e preparar-me para a janta.
- Claro. Fiz arroz de pato, como tu gostas.
- Sabes que adoro um belo arroz de pato. –
Piscou-lhe o olho e subiu.
Jantaram animadamente e Pedro perguntou às crianças
como correu o dia. As gémeas, contaram-lhe das aventuras no palácio da princesa
e Afonso contou-lhe que a porta da casa da árvore estava prestes a soltar-se.
Pedro prometeu arranjar ainda antes de voltar a Lisboa.
Levou as crianças para a cama e contou-lhes uma
história de embalar. As gémeas adormeceram num instante, mas Afonso demorou
mais para adormecer e encheu-o de perguntas.
- Papá, vais voltar para Lisboa?
- Sabes que o pai de tempos a tempos tem de ir a
Lisboa, Afonso. Faz parte do meu trabalho.
- Eu sei, papá. Mas nós sentimos tantas saudades
tuas e o mano, mais dia menos dia, está a chegar.
- Por isso mesmo... O pai tem de trabalhar. Vamos
precisar de mais dinheiro quando o mano chegar. E eu tenho que tomar conta de
vocês. Um homem tem de cuidar da sua família, Afonso.
- Sim, papá. Eu sei. Ficas comigo até adormecer?
- Claro, meu guerreiro.
Quando Afonso adormeceu, Pedro desceu para a sala e
juntou-se à esposa. Sentou-se de frente para ela e massajou-lhe os pés.
- Estás cansada, não estás princesa?
- Já fica difícil aguentar as crianças com esta
barriga, Pedro. Acho que vamos precisar de ajuda.
- Tens razão. Amanhã começa a procurar uma caseira
que te possa ajudar. Em breve vou ter uma promoção no trabalho e mais essa
despesa não será problema.
- Promoção? Isso significa que vais ter de ficar
mais vezes em Lisboa?
- Infelizmente sim, princesa. Sabes que a partir do
Alentejo não consigo gerir tudo.
- Eu sei, Pedro. Eu entendo. É para o bem da
família.
- Sempre... A família sempre em primeiro lugar.
Anda, vamos deitar, está na hora de descansar.
Ajudou a esposa a levantar-se e caminhou com ela
até às escadas.
- Espera um pouco. – Disse ele e dirigiu-se à
janela.
Afastou as cortinas e reparou que a carrinha
continuava estacionada no fundo do trilho. Já estava lá há algumas horas, desde
que ele chegou. Podia até jurar que era a mesma carrinha que viu à saída de
Lisboa. O que estava lá a fazer? Será que o estava a seguir? Levou a esposa
para a cama, deitou-se com ela e esperou que adormecesse. Fosse quem fosse que
estivesse naquela carrinha iam ter uma conversa séria. Ah, isso iam...

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