Capítulo 21 - O Mal Está Dentro de Si

Pedro, abraçou a mulher e beijou-a ternamente. O filho, acabado de nascer, dormia nos braços da mãe. A definição de amor era aquela. Uma mulher e filhos. A família representava tudo para ele. Por eles seria capaz de mover o mundo, e faria o possível e o impossível para os proteger, e proteger o seio familiar.
- É lindo, não é?
- Como a mãe... Sou abençoado por te ter.
- Somos, Pedro. Não sei o que fiz para ter um homem tão bondoso, tão perfeito...
- Nenhum de nós é perfeito aos olhos de Deus, princesa. A tua bondade é que traz o melhor de mim. Só contigo consigo ser esse homem que tu amas.
- Amo-te, Pedro.
- E eu a ti, mais do que tudo. - Pedro, contemplou, uma vez mais, o filho. – Miguel. Ele tem cara de Miguel.
- Miguel... Miguel Paiva. Gosto muito.
As enfermeiras anunciaram que a hora da visita estava prestes a terminar.
- Vou para casa. Não sei se a tua mãe já chegou... Vou tratar dos miúdos.
- A Deborah, ficou lá com eles...
- A tua sobrinha tem ar de que não consegue tratar dela própria, Neuza.
- Ela está a passar por um período difícil.
- Como sabes se mal a conheces?
- Eu sei, Pedro. Eu sou mãe, eu sei. Não perguntes como, mas sei... Além do mais...
- O quê?
- Sinto que algo de estranho se passa. Quando perguntei ao padrasto por ela, ele disse que estava fora com as amigas. Nem sequer sabe onde ela está... Achas normal? Não falou com as amigas?
- Na volta foi isso que ela lhe disse, não?
- E não telefona? Uma miúda de 12 anos a quilómetros de casa e os pais não sabem? Já se passaram dois dias, Pedro.
- Tens razão... E a mãe no hospital... E ela apareceu no mesmo dia que a mãe foi para o hospital.
- Pois... Vês? Estranho, certo?
- Uhm... Não há de ser nada. Preocupa-te com o pequeno Miguel.
- É minha sobrinha, estou preocupada. Algo se passa.
- Olha, fazemos o seguinte: eu vou falar com a Deborah e tentar perceber o que se passa... Está bem?
- Obrigada... És o melhor marido do mundo...
- Só para ti, princesa. Só para ti.
Despediu-se com um beijo e conduziu até casa. Neuza, tinha razão. Alguma coisa se passava com a sobrinha... A história não batia certo. Ele tinha de resolver isso o quanto antes. Neuza não iria descansar enquanto não ajudasse a sobrinha. Tinha a mania que podia mudar o mundo. Era tão inocente. Neuza não acreditava que o mal morava dentro de cada um de nós. Ele, sabia disso por experiência própria. O ser humano carrega o mal dentro de si. Os mais fortes conseguem combate-lo...
Iria chamar Deborah à parte e tentar perceber o que se passava. Afinal de contas, era sobrinha dele. E a família tinha de ser protegida a todo o custo. O bem-estar da Deborah afetava o bem-estar da mulher e ele tinha de assegurar que Neuza tinha tudo o que queria. Manter a esposa satisfeita era o segredo do casamento. Quando se está feliz não se fazem perguntas, não se questionam ausências.
Pedro, tinha um problema para resolver com a Maria e o cabrão em Lisboa, e para isso precisava de paz. Ia resolver a situação dentro da sua própria casa, primeiro...
Quando chegou, a sogra ainda não estava em casa. Ligou, preocupado, e ela descansou-o desculpando-se com o trânsito. Do Porto para o Alentejo ainda era um esticão. A sobrinha, já tinha posto as meninas a dormir. Afonso, estava inquieto à espera do pai.
Pedro, beijou-o e disse que estava tudo bem. O mano, Miguel, daqui a dois dias estaria em casa. A mãe estava bem... Aconchegou-o e ficou no quarto até ele adormecer. Desceu, e encontrou Deborah sentada no sofá, a chorar.
- O que tens, Deborah? Queres-me contar...
- Tio... Posso chama-lo de tio?
- Claro, é isso mesmo que sou. Sou teu tio, tua família. A tua tia fala sempre de ti, sabes?
- Sério? – arregalou os olhos feliz.
- Sim. Ela nunca quis pressionar. Sempre soube que um dia virias pelo teu próprio pé... Porém... Ela acha que não estás bem...
- Tio... Eu... A minha mãe está no hospital... Tenho de ir para Lisboa...
- Eu sei... Tratamos disso amanhã. Tu vieste porque a tua mãe estava doente? Estás com medo? O que se passa? Podes contar-me tudo. – Pousou a mão sobre o ombro da sobrinha e sorriu.
Deborah, por algum motivo, confiou no homem que estava à sua frente. As primas e a tia eram felizes com ele. Ele devia ser um bom homem. Sem saber tudo, Deborah abriu o coração para o tio. Contou tudo... Desde o inicio até ao fim...
Pedro, ouviu sem interromper. Abraçou a sobrinha e disse-lhe que tudo ia ficar bem. Levou-a para o quarto e depois levou-lhe um copo de leite com mel. Sabia que ela precisava muito mais do que isso mas no momento era a única coisa que podia fazer.

Sentou-se lá fora no alpendre sem saber o que fazer. Como contar à mulher? O que fazer para ajudar? A sua teoria estava certa, todos os homens carregam o mal dentro de si. Uns conseguem combate-lo, outros vão batalhando mano-a-mano e outros deixam-se sucumbir. Fazer mal a uma criança era o pior dos crimes. Para Diogo, nem o apedrejamento seria suficiente. E Pedro, bem... Iria garantir que isto não ficava assim.


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