Capítulo 23 - Coincidências

Diogo, sentia-se inquieto. Não conseguia contactar Deborah e sentia que o tempo se estava a esgotar. Para além do mais, o primo Daniel, com quem não falava há anos tinha-lhe ligado num tom de poucos amigos.
Em criança, Diogo era o único amigo de Daniel. Daniel sempre foi martirizado pelo excesso de peso e posteriormente devido ao acne. Diogo, defendia o primo sempre que podia. Sentia uma afinidade, talvez por achar que ambos eram vitimas de situações que não conseguiam controlar. Contudo, de um dia para o outro Daniel, passou a evita-lo. Deixou de falar com ele e afastou-o das irmãs. Diogo, suspeitou, que Daniel tivesse reparado em qualquer coisa. Afinal, é preciso um renegado para reconhecer outro renegado.
Daniel, andava de um lado para o outro com o cigarro na mão. Não conseguia esconder o nervosismo e Diogo estava curioso em saber o que lhe afligia. Será que se tinha metido em algum sarilho e precisava da ajuda dele como quando eram crianças? Aproximou-se, cautelosamente, e chamou-o.
- Epah! Não mudaste nada, reconheci-te ao longe. – Tentou fazer conversa corriqueira e descontraída.
- Tu também não mudaste nada, Diogo. – Atirou o cigarro para o chão e pisou a ponta do mesmo.
- Olha, não tenho muito tempo. Desculpa. Não sei se sabes mas a minha mulher...
- Opah, desculpa. Eu sei, acabei de ver nas notícias. Não sabia disso antes de te ter telefonado. Se eu soubesse...
- Se ligaste é porque é importante, Daniel. Anda lá tomar um café e entretanto dizes-me o que se passa.
- Se não te importas, prefiro falar aqui. No café tem muita gente...
- Uhm... Então é assunto sério. Nunca foste de papas na língua. Diz-me...
- Diogo, preciso de dinheiro.
- Dinheiro? Desapareces durante anos e vens pedir-me dinheiro?
- Não é como se te faltasse...
- A questão não é essa... Dinheiro para quê? Estás metido em algum sarilho?
- Mais ou menos... Não te posso dizer. Mas preciso de dinheiro...
- Daniel, vamos ser sensatos. Não me vês há anos, vens pedir-me dinheiro e não me podes dizer para quê? Estamos a falar de quanto?
- Uhm... Não te posso dizer, Diogo. Não é para mim. Epah... Uns 20 mil euros!
- Estás doido? Vinte mil euros? Daniel... Não te posso ajudar. Esse montante é avultado.
- Não podes ou não queres?
- Quem me garante que não estás metido em drogas? Deves isso a algum contrabandista? Estás metido em cenas perigosas? Para te ajudar com esse montante preciso saber para que é, Daniel. Posso ajudar-te com seja lá o que for, mas dinheiro raramente é a solução.
- Diogo... Vais dar-me o dinheiro ou não? Não somos putos, pah. Não me vais salvar com palavras e a afastar bullies. Preciso do dinheiro a bem ou a mal...
- A bem ou a mal? O que queres dizer com isso?
- Diogo... Eu sei coisas sobre ti, entendes? Coisas que... Digamos se os média sabem... Não te ia ficar bem na ficha. Estás a entender?
- Estás a brincar comigo? Não me vês há anos e sabes coisas sobre mim? Estás a delirar...
- Até podem ser desconfianças, mas a imprensa sabe... Posso destruir-te a vida, querido priminho. Não queria ir por aí. Mas preciso mesmo de dinheiro? Não é para mim... É para a minha miúda...
- Daniel, não sei o que pensas que sabes sobre mim, mas eu não caio em ameaças. Entendes? Se me dissesses o que realmente se passa, até te poderia ajudar. Agora vens com ameaças? Esquece!
- Esquece? Esquece? Então não tem problema que a imprensa saiba que tu passas-te todo com meninas de seis aninhos? Eu vi-te todo passado a brincar às cavalitas com as minhas irmãs? Porque é que pensas que me afastei? Não tolero porcos! Devia ter dito algo na altura. Como resististe a tocar na filha da tua mulher? Deve ter sido difícil... – reparou na cara de choque de Diogo. – Fodasse. Não me digas que não resististe? Isto é melhor do que eu pensava.
Diogo, sem pensar, despoletou um valente murro ao primo. Pela primeira vez ouviu em voz alta, por outra pessoa, o tipo de monstro que era. Sentiu nojo dele mesmo. Nunca pensou...
Daniel, ergueu-se e limpou o sangue que lhe escorria da boca.
- Isto quer dizer que me vais dar a guita. Pensado melhor, preciso de 50 mil euros.

Ao fundo, parado no parque de estacionamento, Pedro assistia à cena sem entender nada. O que fazia o cabrão a falar com o padrasto da sobrinha? Porque é que este lhe tinha dado um soco? Mas que merda é que se estava a passar? Por sorte, Deborah, já tinha entrado para o hospital para ver a mãe. Pedro, teria que se aproximar para tentar perceber o que se passava. Já eram coincidências a mais!


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