Capítulo 10 - Eva

Ultimamente, a filha andava mais estranha que o normal. Deborah, sempre fora uma bebé extrovertida e alegre, até entrar para a primária. Lembra-se, como se fosse ontem, do primeiro dia de aulas. Deborah, inquieta e com um sorriso de orelha a orelha porque já era grandinha e finalmente ia fazer amigos. Como Eva não trabalhava sempre cuidou da bebé em casa e como tal Deborah não frequentou a creche e conhecia poucas crianças da idade dela. Estava ansiosa para fazer amiguinhas.
O coração de Eva partiu-se ao deixar a menina na escola. Enquanto Deborah, não parava de pular de alegria, Eva sentiu um aperto no peito ao entregar a sua filha ao mundo. Tinha medo do que o mundo pudesse fazer à sua menina. Sabia que o mundo era cruel e nem sempre protegia as meninas inocentes. Embora, Diogo sempre insistisse em que a menina devia ir para a creche e estar com outras crianças da idade dela, Eva sempre rejeitou a ideia. Queria proteger a filha o mais que pudesse, enquanto pudesse. Em casa ela estaria mais segura. Em casa tinha a mãe e o padrasto para cuidar dela. Não confiava em mais ninguém, sem ser na mãe, para pensar sempre no melhor para a filha.
E as crianças, por vezes, são cruéis. Muito cruéis. Deborah, era frágil e Eva sempre temeu que as outras crianças fossem maldosas com ela. Quando a filha nasceu e foi-lhe diagnosticado albinismo, Eva soube que o percurso não seria fácil. Soube imediatamente que a filha não teria uma vida fácil, num mundo em que as diferenças são vistas de forma negativa. Para piorar, o próprio pai abandonou-a, tinha a Deborah apenas 6 meses de vida. Eva, tinha uma apenas missão na vida: cuidar da sua filha e protege-la do mundo e da maldade das pessoas.
Eva, foi busca-la à escola com o coração apertado. Deborah, saiu da sala e correu para a mãe ansiosa para contar sobre os novos amigos. Eva surpreendeu-se com a aceitação que a filha teve na escola e deu graças a Deus por as suas preces terem sido ouvidas. Contudo, passado a primeira semana de aulas tudo mudou. Deborah, perdeu o brilho nos olhos e isolou-se. Eva, insistiu várias vezes. Perguntou à filha o que se tinha passado, se alguém tinha dito algo, se alguém a tinha magoado. Eva, foi até à escola e perguntou se a professora tinha notado alguma coisa. A filha, de repente, estava diferente, algo nos olhos da menina tinha mudado. A professora confirmou que notou que algo tinha mudado na menina mas que muito pelo contrário, Deborah é que se tinha afastado das outras meninas.
Os anos passaram e Deborah, continuou com o mesmo comportamento. Eva considerou um psicólogo mas Diogo era contra isso. Não acreditava em psicólogos e psiquiatras. Era uma profissão de charlatães. Deborah, era simplesmente uma menina sensível que deve ter reparado na diferença entre ela e as outras meninas. Para além disso, tinha a família para tomar conta dela Não precisava de charlatães a invadir-lhe o cérebro e dizerem que era não é normal. Como sempre confiou em Diogo, Eva assentiu.
Quando, Sheila, mudou-se para a escola e fez amizade com Deborah, Eva sentiu um alívio. A filha começou a sorrir mais vezes e às vezes a amiga vinha para casa brincar com ela. A filha era uma menina normal, provavelmente só precisava de se identificar com alguém.  Provavelmente saira à mãe. Eva sempre foi de poucas amigas. Sempre preferiu ficar no mundo da fantasia do que brincar às bonecas. Quando cresceu isolou-se ainda mais porque as amigas só falavam de rapazes e Eva nunca achou piada a isso. Deborah, provavelmente, tinha sido á mãe. Era só isso...
Contudo, nas últimas semanas, tinha sentido a filha mais distante do que o normal. As palavras trocadas entre ambas resumiam-se a uhms e pois. Fechava-se no quarto e não falava com ninguém. Até as visitas da Sheila, tornaram-se menos constantes. Alguma coisa se passava com a sua menina. Algo de muito sério, se passava com a sua menina.
Eva, tentou aproximar-se da filha. Levou-a ao cinema, levou-a a fazer compras, mas Deborah agia que nem um robot. Não mostrava interesse em nada. Não mostrava qualquer tipo de emoção... Embora achasse que a privacidade era algo a preservar, Eva, teve necessidade de vasculhar as coisas da filha. Algo estava errado. Algo estava muito errado. Abriu gaveta a gaveta, à procura de um diário, de um indicio. Não tinha outra hipótese. Parou, estupefacta e incrédula, a olhar para o conteúdo da última gaveta. Entre as roupas tinha um teste... Um teste de gravidez escondido entre as roupas... O sinal... O sinal de positivo... Eva, sentiu-se mal, cambaleou e vomitou!

Não podia ser, a filha só tinha doze anos! Não podia ser!

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