Capítulo 26 - Confronto

Diogo, pediu um café e um copo de chocolate quente para Deborah. Para a avó, pediu uma sopa de espinafres para levar.
Sentaram-se na última mesa do café. Ao fundo, onde ninguém os pudesse ver, ou mesmo ouvir. Deborah, nervosa, contava os dedos das mãos como se de repente algum pudesse desaparecer. Precisava de forças para enfrentar o monstro que tinha à sua frente.
- Debi, filha... Onde é que andaste? O que se passa?
- Não me chames isso! – Olhou para o padrasto cheia de raiva nos olhos! – Como tens coragem de me chamar tua filha?
- Deborah... Eu sou teu pai, eu... Eu sempre cuidei de ti como um pai.
- Para! Para de te enganares a ti próprio. Para de me enganar! Pai que é pai não faz o que tu me fizeste. Os pais não tocam nas filhas...
- Deborah, por favor, baixa o teu tom de voz!
- Estás com medo? Estás com medo que as pessoas descubram o que tu és?
- Deborah... – Diogo não tinha palavras. Não sabia como lidar com a situação. Precisava de calar Deborah, mas não sabia como.
- O que tem a minha mãe? Eu não quero saber de mais nada! Só quero saber o que se passou com a minha mãe!
Diogo, limpou o suor que lhe corria da testa e contou a Deborah. Contou sobre o teste de gravidez, contou sobre a discussão, contou sobre o estalo, o desespero, o sangue no chão...
- Tu! Sempre tu! A culpa é tua! Como pudeste? – Encheu-se de raiva.
- Foi um acidente, Deborah. Ela caiu mal, eu... Eu nunca te menti! Esta é a verdade. Só tu é que sabes o que aconteceu, filha...
- Claro! Nunca me mentiste? Se calhar não. A tua forma doentia de ver o amor de um pai para um filha deve ser algo em que realmente acreditas, de que forma podes viver contigo mesmo?
- Não sei... Deborah...
- Já contaste à policia? Vais contar isso à policia ou vai ser mais um segredo só meu e teu? Mais uma conversa que fica só entre nós? Enquanto o mundo pensa que tu és o melhor de todos os homens?
- Deborah... Eu quis contar... Mas depois...
- As mentiras começaram a amontoar-se, não é? E não consegues sair disso, certo? Claro, vais dizer que mataste a tua mulher porque ela descobriu que lhe engravidaste a filha? Ou também me vais matar a mim para ocultar a verdade, como o grande cobarde que és?
- Deborah, não me fales assim. Tu!
- Vais me bater? É isso? Eu já  não sou a miúda que acreditava em tudo o que dizias. Tu devias proteger-me. Já morri há muito tempo e não sabia. Nem sei o que é ser criança... Como pudeste? És um monstro!
- Deborah... – Diogo, pela primeira vez, começou a chorar em frente à miúda.
- Não me comoves... Já não tenho amor por ti. Senti-me culpada durante tanto tempo, pensei que gostava de ti. Eras meu pai... Como pudeste?
- Não tenho palavras... Não te posso pedir desculpa. Só te peço tempo... Tempo para digerir isto?
- Tempo? Tu mataste a minha mãe! Engravidaste-me! Vamos à policia e agora!
Diogo, por baixo da mesa, apertou a perna de Deborah com toda a força que tinha.
- Deborah, eu já te disse para te acalmares. Há muita coisa em jogo...
- Aqui está o verdadeiro, Diogo. – disse no meio de lágrimas. – Finalmente te revelas como verdadeiramente és para mim. Aqui não há tempo. Não mereces nada! Vais pagar pelo que me fizeste. Pelo que fizeste à mãe. Não te perdoo nunca!
- E a tua gravidez? Deborah, tens uma vida pela frente... Deixa-me ao menos ajudar-te. Enviar-te para um sítio seguro onde possas resolver isso. Depois... Depois eu faço tudo o que tu quiseres...
- A minha tia, vai cuidar de mim! Tu? Tu vais ter o que mereces... O mundo vai saber quem tu és! – Libertou-se e levantou-se num pulo.
- Deborah! Volta aqui... Não me faças isto...
- O quê? Vais matar-me aqui em frente a esta gente toda? Estou mesmo para ver isso. Criaste um monstro, Diogo. Eu só tenho 12 anos mas já não sou inocente. Não acredito mais em Deus. Não acredito em nada. Acredito que cá se faz, cá se paga e tu vais pagar. Pelo que me fizeste a mim e à minha mãe!

Deborah, saiu com as pernas a tremer mas com um ar triunfante. Iria direto para a polícia. Para além de violador, era um assassino. Um assassino sem remorsos. Só tinha 12 anos, mas infelizmente já tinha vivido mais que muitas mulheres. Roubou-lhe a infância e a vida. Roubou-lhe a mãe. Tinha vivido com um monstro, mas havia sempre aquele ditado: Junta-te aos maus e serás pior do que eles.


Comentários

Mensagens populares