Capítulo 24 - Encontro com o Monstro
Deborah, aproximou-se da cama da mãe. A avó, estava
deitada com a cabeça sob o peito da filha e com o terço na mão. Deborah, pensou
que a avó estivesse a dormir, mas reparou quando a mesma, subtilmente, mudou de
uma conta para a outra. Tinha pena da avó, que ainda acreditava que Deus existia
e fazia milagres. Ela, pelo contrário, tinha dúvidas, sérias dúvidas, da sua
existência.
Sentou-se ao lado da avó e beijou-a. Ficou em
silêncio a olhar para a mãe. Não sabia o que se tinha passado e a avó nunca
interrompia uma reza. Deborah, respirou fundo e pediu, baixinho, a quem for que
tivesse poder para salvar a mãe. Se fosse Deus, ela mais do que merecia que
desta vez ele ouvisse as suas preces. Se não fosse Deus, que se apresentasse e pusesse
mãos à obra.
A avó benzeu-se, beijou a filha na testa e olhou
para ela preocupada.
- Por onde andaste, Debi? Estava tão
preocupada contigo… O teu padrasto disse que estavas com amigas… Este tempo
todo? Sabes que tens que ter cuidado contigo mesma… Olha para ti… Estás tão magrinha…
Tens estado a comer?
- Avó… - Deborah sorriu, havia coisas que não
mudavam. Tinha ganhado a mania de desbobinar com a avó. – Avó, eu estou bem.
Estou preocupada com a mãe, avó. O que é que ela tem?
- Ah minha querida, estou preocupada com vocês
as duas! A mãe está em coma. Não sei o que ela tem… Os médicos ainda estão a
fazer exames!
- Não sabes como, avó? Como é que ela veio cá
parar? O que aconteceu?
- Ah, isso… O teu padrasto encontrou-a caída em
casa. Acho que tropeçou em alguma coisa e bateu com a cabeça… Perdeu muito
sangue, filha. Perdeu muito sangue… Está inconsciente…
A avó perdeu as forças ao proferir as palavras
em voz alta, e rompeu em choro. Ambas choraram abraçadas.
- Vamos rezar, Deborah. Reza comigo, Deus vai
ajudar.
Deborah, não teve coragem de dizer à avó que duvidava
que Deus fosse ajudar fosse no que fosse, mas não lhe quis tirar a esperança. Para
incrédula bastava ela. Agarrou as mãos, frias da mãe, e colocou a cabeça no seu
colo. Tinha saudades de quando a mãe lhe penteava os cabelos e contava
histórias das princesas e dos príncipes encantados. As histórias acabavam
sempre com a forma como conheceu Diogo e como se tinha apaixonado. Os olhos da
mãe brilhavam sempre que falava de Diogo… Deborah tinha pena da mãe. Se calhar,
Deus existia e estava a poupa-la da realidade que se avizinhava.
Eva nunca iria acreditar que o seu príncipe
encantado, que o melhor homem do mundo, que o único homem que era homem seria
capaz de abusar da sua própria filha. Provavelmente iria dizer que tudo não se
passava de uma mentira, de uma forma de uma menina, em pré-adolescência, chamar
a atenção. A gravidez seria provavelmente fruto de um encontro com um desses
rapazes desprovidos de boas maneiras e bons costumes, como ela sempre dizia. E
a coitada da filha, tinha caído no conto do vigário. Provavelmente, o lobo mau
tinha-se disfarçado de lebre e seduzido a sua menina… Sim… Era essa a história
que a mãe iria inventar e acreditar piamente…
Deborah, sentiu um calafrio ao ver Diogo
entrar no quarto da mãe. Tinha acabado de vir da rua e cheirava a cigarro. Ela
não se lembrava de alguma vez o ter visto a fumar. Diogo surpreendeu-se com a
presença dela e correu a abraça-la. Deborah, quis repudiar o seu abraço mas não
o podia fazer. A avó podia desconfiar de alguma coisa, e ainda não estava
preparada para contar.
- Dona São, deve estar com fome. Vá comer
qualquer coisa, por-favor. Precisa de guardar as forças.
- Eu não quero sair de ao pé da minha filha.
Já tive longe dela por tempo demais…
- Então diga-me o que quer que eu vou buscar…
- Não quero nada… Não tenho fome.
- Deborah… Anda comigo. Deves saber do que a
avó gosta…
- Vai lá, filha. Também estás com ar de quem
precisa comer qualquer coisa.
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