Capítulo 27 - Esperança

Maria, abriu a porta e correu para os braços de Daniel. Abraçou-o, beijou-o e chorou nos braços dele. Contou-lhe sobre a morte do pai, e sobre como se sentiu sozinha e precisou dele.
- Desculpa... Senti tantas saudades tuas...
- Eu entendo, Maria. O mundo por vezes é complicado.
- A quem o dizes, Daniel. A quem o dizes...
- Olha, tenho novidades. Para a semana vou conseguir tirar-te daqui. Vamos para Angola buscar o teu irmão e a tua mãe. Aqui ele terá mais hipóteses.
- Tirar-me daqui, como? O que estás para aí a falar?
- O meu primo... O meu primo vai dar-me 50 mil euros. Já falei com ele. Para a semana tenho o dinheiro na conta.
- O quê? Dar-te 50 mil euros? Primo? Qual primo? A troco de quê? Nada nesta vida é de borla, Daniel.
- Dar-me... Não é bem assim. Pagar-me, diremos. Pagar-me pelo meu silêncio.
- Explica-me lá isso melhor. – Pediu, Maria, com esperança na voz.
Daniel contou-lhe tudo. Quem era o primo, o porquê de se afastar dele, a chantagem...
- Porra! E quando eu penso que não pode haver pior no mundo... É uma miúda. Não tem escolha! Eu tive escolha...
- Eu sei...
- Tu não devias usar isso como chantagem. Se tens a certeza disso devias salvar essa miúda. Contar à policia. Não quero a minha liberdade por um preço tão grande. Não quero o teu dinheiro. Não vou viver com isso...
- Ele prometeu-me que nunca mais ia tocar na miúda. Provavelmente ela vai morar com a avó, se a mãe não se safar.
- Mesmo assim, Daniel. Ele tem de pagar por isso! Não deixes esse monstro ver-se livre disso.
- Maria... Eu sei o que me estás a dizer. Tenho muita pena da miúda, a sério. Mas o que já está feito, está feito. Não vou poder mudar. E tenho uma oportunidade para te tirar daqui. O meu primo tem muito dinheiro, isto não lhe vai fazer falta. E provavelmente, com a influência que tem vai se safar com uns aninhos na cadeia e depois sai em liberdade condicional. Esses gajos safam-se sempre!
- Mesmo assim! A tua responsabilidade é contar a verdade! Como podes saber disto e não fazer nada? Não serás melhor que ele se ocultares isso!
- Maria... Fazemos assim... Deixa ele dar-me o dinheiro e depois eu conto tudo. Só mais uma semana, está bem? Matamos dois coelhos de uma cajadada só. Liberto-te e ponho o gajo na cadeia. Está melhor assim?
- E a miúda? A miúda vai ficar com ele mais uma semana?
- A mulher está no hospital. A imprensa à volta como se fossem abutres, à espera que ela morra. Ele não há-de tocar na miúda tão cedo...
- Tens razão. Sim... Esperança. Será?
- Vais ver, Maria. Vou salvar-te. Vamos sair daqui e ser felizes juntos, os dois.
- Juras?
- Eu amo-te, Maria. Sinto uma necessidade de te proteger. Mereces o mundo. E eu farei tudo para te dar.
Maria não quis acreditar nas palavras de Daniel. Ultimamente estava habituada a que tudo corresse mal, mas naquele momento, naquele preciso momento quis fingir que o mundo conspirava a seu favor. Daniel, levou-a para a cama e fizeram amor. Entregou-se a ele com uma paixão que pensava perdida. Quem sabe o amor, não seria realmente a salvação? Quem sabe Deus colocou esse homem na vida dela para a salvar?
Amaram-se a noite toda, sem receio. Pedro, estava ocupado com o novo bebé e a mulher. Tão cedo não os importunaria.
Levantou-se e foi preparar o pequeno-almoço. Daniel, chamou-a, do quarto, como se o mundo estivesse prestes a acabar. Aumentou o volume do telemóvel e mostrou-lhe: “A enteada de Diogo Amaro, famoso jogador de futebol, acabou de acusa-lo de abusos sexuais e de culpa-lo pela morte da mãe. A polícia está neste momento à procura do futebolista para prestar declarações. A investigação estará a cargo da Policia Judiciária. Será que o homem que tinha sido considerado como um dos melhores partidos de Portugal poderá ser, na realidade, um monstro?”.

Maria, sentou-se ao lado de Daniel e deu-lhe as mãos. A esperança tinha acabado de morrer.


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