Capítulo 33 - Onde Está a Maria?

Estava exausto. Nunca pensou ser capaz de tal coisa, mas a ocasião faz o ladrão. Atirou-se na cama, exausto e nem se lembrou de verificar o telemóvel. Dormiu agitado, reviveu nos sonhos as últimas horas. Nunca pensou... Nunca pensou...
Acordou e foi à janela. Procurou por Maria, com os binóculos, e não a viu em nenhuma dependência do apartamento, para os quais tinha campo de visão. Ou ela estava na casa de banho ou no quarto dos fundos. Não tinha visto sinais do Pedro, mas duvidava que o “animal” se aproximasse de Maria por uns tempos. Por esta altura, a querida esposa já devia ter recebido o envelope que ele tinha enviado e Pedrinho tão cedo não colocava as mãos na sua amada.
Sabia que tinha sido um ato de egoísmo, Maria não queria que ele se intrometesse e achava que precisava de Pedro para viver. Assim que o primo aceitou dar-lhe o dinheiro, Daniel, não pensou duas vezes e enviou a fotografia. Com Pedro afastado por uns tempos teria mais tempo para convencer Maria e saírem de Lisboa ou mesmo do país. Não tinha nada que o prendesse, nem sequer o trabalho, e ninguém daria falta dele.
Tudo corria sobre rodas até a bomba ter estourado. Quando a enteada do primo veio a público com a história dos abusos, Daniel perdeu a vantagem que tinha na negociação. Vindo tudo a ser confirmado, Diogo não tinha motivo para pagar e a confirmação não dependia dele. Os exames médicos viriam a confirmar tudo. Sempre desconfiou das tendências sexuais do primo, mas chegar ao ponto de engravidar a miúda? Nunca pensou! Para ter chegado a isso é porque Diogo abusava da miúda de uma forma constante. Havia monstros para tudo neste mundo. Monstros que faziam e desfaziam e saiam impune.
Assim que a declaração da miúda tornou-se pública, o circo Diogo Amarou começou. Os media só falavam do primo. Foram buscar vídeos desde o inicio da carreira. Fotos do casamento. Fotos da lua-de-mel. Fotos de férias em família. Chamavam-no monstro. O povo dizia que ele tinha que ser largado em hasta pública. O circo estava montado e desse no que desse duvidava que o primo se fosse safar das acusações. O rei tinha acabado de cair do trono e não havia nada que o pudesse salvar.
Daniel, de repente, ficou com um problema gigante nas mãos. Para além de não poder garantir o dinheiro do Diogo, tinha acabado de estoirar a fonte de rendimento de Maria. Duvidava que Pedro fosse dar mais algum tostão, e pior que isso, temia que lhe fizesse mal. Aguardou, impacientemente a chamada da Maria. A chamada nunca mais chegou.
Os dias passaram e nem sinal de Maria, nem de Pedro. Nervoso, Daniel vigiava a casa 24 horas por dia na esperança de ver uma luz, um movimento... Pensou em chamar a polícia, mas não sabia o que dizer. Tinha a certeza que alguma coisa se estava a passar.
Maldita a hora em que se quis armar em cavaleiro andante. A porcaria da foto deve ter levado Pedro a agir em desespero. Daniel, decidiu vigiar a casa do Alentejo. Se Pedro não vinha a Lisboa, devia estar em casa a tentar salvar o que restasse do seu casamento. Só podia.
Viajou a herdade por dias a fio e nem um sinal de Pedro. Neuza passava o dia com as crianças e uma senhora de idade, que pelas feições parecia a sua mãe. Nem sinal do marido. Nem sinal da polícia. Nem sinal de nada! Desesperado, e sem saber o que fazer, decidiu entrar em contacto com a esposa. Ligou para a herdade fazendo-se passar por um engenheiro que tinha perdido o contacto do sr Pedro Paiva. Precisava de falar com ele urgente. A esposa, sem fazer muitas perguntas, deu-lhe o número. Parecia que se estava nas tintas para quem queria falar com o marido.
- O que fizeste com a Maria? Diz-me, seu animal? O que fizeste com ela?
- Quem fala?- Pedro, silenciou-se. – Ah, o vigilante! Prazer em ouvi-lo.
- O que fizeste à Maria?
- Não sei de nada dessa puta. – disse Pedro, mudando o tom de voz.
- Não me mintas, pah! Eu entrego-te à policia.
- Já te disse que não sei dessa puta e não quero saber dela para nada. Podes ficar com os restos.
- Eu mato-te! Diz-me o que fizeste com ela!
- Já te disse que não sei dessa vadia. Tens muitos culhões ao telefone, tu. Vê lá se és homem para vir falar comigo diretamente.
- Não tenho medo de ti! Encaro-te quando quiseres!
- Não seja por isso. Já há muito que acho que devíamos ter uma conversa mano a mano. Temos muito para conversar.
- Diz o local e a hora.
- Assim seja.

Daniel, desligou o telefone, com o coração acelerado e os nervos em franja. O “animal” tinha feito alguma coisa à Maria. Tinha a certeza. E a culpa era toda dele!

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