Capítulo 37 - O "Animal" e o "Intrometido"

Estava frio. Daniel, congelava, sentado inerte, no banco do parque por onde aguardava por Pedro. De certo que o “animal” optou por um local público por saber que Daniel estava ansioso para lhe colocar as mãos em cima. Queria esgana-lo e faze-lo pagar por tudo o que tinha feito à Maria, mas, primeiro, precisava saber o que ele tinha feito com ela.
Avistou-o ao longe com o ar mais descontraído do mundo. O homem não tinha nem um pequeno ar de remorsos. Não mostrava a mínima preocupação. Não fazia sentido como um pai de família podia ter um lado tão escuro. Provavelmente a mulher desconhecia esta faceta negra do marido. Pedro, era um mestre a esconder a sua verdadeira personalidade.
- Bom dia, intrometido. – Cumprimentou Pedro com um ar de gozo.
- Estás muito bem disposto para quem acabou de fazer uma mulher desaparecer.
- Já disse que não sei da tua Mariazinha... Quero é saber de ti, palhaço. De onde saíste e o que queres de mim. E claro que estou bem disposto, estou sempre bem disposto.
- A coitada da tua mulher que o diga, certo?
- Não metas a minha mulher nisto. – Pedro agarrou-lhe o colarinho, e imediatamente largou-o lembrando-se de onde estava. – Escuta lá, o que queres de mim?
- Quero saber onde está a Maria. O que lhe fizeste, seu “animal”?
- Não sei do que estás a falar. Vamos voltar atrás na história e diz-me de onde surgiste? O que queres? Já te meteste demais na minha vida e isto vai ter de acabar.
- Diz-me onde está a Maria?
- Vamos andar aqui às voltas? Tu perguntas, eu digo que não sei, tu perguntas, eu mando-te à merda... É isso?
- Só quero saber o que fizeste com ela?
- Não fiz nada, já te disse. Agora explica-me de onde surgiste e o que queres, tirando a Maria que isso já sabemos?
- Queres mesmo saber de onde surgi? Andei a observar-te seu porco. Vi-te a bater na Maria vezes e vezes sem conta e depois a agir como se nada tivesse acontecido.
- Viste? Viste como?
- Do meu prédio. Com binóculos...
- Ah... Já vi a história toda. És daqueles coitados que espreita os outros para gozar, certo? Um desgraçado que não consegue engatar uma mulher pelos próprios meios e imagina que as come à distância... Basicamente, és um pobre coitado! E viste ali a oportunidade de papar à seria...
- Cala-te! Não é nada disso! Eu só estava...
- És um zé ninguém, palhaço. E queres fazer a festa às minhas custas. Já percebi. A tua Mariazinha não é vítima nenhuma...
- Não sou palhaço nenhum...
- És sim... Um pobre coitado! Um inútil que não consegue engatar uma mulher! A tua Mariazinha sabia o que estava a fazer. Aceitou as regras do jogo e era paga para isso.
- Tu é que és um aproveitador! Aproveitas-te de uma miúda indefesa...
- Indefesa? O otário aqui és tu, palhaço. A Maria de indefesa não tem nada. É muito astuta e ingrata. Teve a coragem de te colocar dentro do apartamento que eu pagava para ela...
- Como? Sabias disso?
- Eu vi tudo, pah! Nem sequer sabes fuder direito. Com beijos e abraços a uma prostituta. Que desperdício. Se soubesses as coisas que ela sabe fazer!
- Cala-te! Cala-te, seu porco. Onde está a Maria? Onde?
- Eu até tenho pena de ti. Estava aqui cheio de raiva e olho para ti e só me dá vontade de rir... Apaixonaste-te pela pessoa errada. A Maria já estava manchada antes de eu a tocar. É uma puta e será para sempre uma puta.
- Diz-me onde ela está...
- Sei lá... Pegou nas malas e saiu. Fez ela muito bem, caso contrário eu punha-lhe na rua. Quebrou o nosso acordo. Tínhamos um acordo e ela quebrou-o. Quero ver agora como é que um zé ninguém vai conseguir pagar por aquilo. Assim que ela encontrar alguém com dinheiro larga-te, palhaço. As putas só veem dinheiro à frente.
- Não voltes a falar da Maria. Diz-me onde é que ela está...
- Já estou cansado com esta conversa, sabes? Só tenho um aviso a fazer-te, não voltes a meter-te comigo e com a minha mulher. Já fizeste demais. Voltas a fazer algo como aquela foto e eu mato-te. Não te estou a ameaçar, estou a dizer-te o que vou fazer. Voltas a meter-te com a minha família e eu faço-te a folha? Entendeste?
- Não tenho medo de ti. Fazes-me como fizeste com a Maria, é isso?
- Sei lá da tua, Maria. Deve estar com a boca num pau qualquer para ganhar uns trocos.
Daniel, não conseguiu mais conter a raiva e deu-lhe um valente soco. Pedro, limpou os lábios e olhou-o friamente nos olhos.
- Voltas-me a tocar e eu ponho-te na mesma vala onde deixei a tua puta. Afasta-te de mim e da minha família.

Pedro, afastou-se e caminhou até ao carro, irritado. Tinha perdido a cabeça e falado demais. O palhaço sabia demais. As coisas estavam a sair do seu controle, e isso era algo impensável. Teria de voltar a tomar o controlo da sua vida e rápido. O intrometido tinha de desaparecer!

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